quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Manuel Machado



Em todos os navios é necessário um comandante. Manuel Machado comandou o plantel principal
da briosa numa época que definiu como “a tanger a mediocridade”





Fora de Jogo: É difícil ter uma carreira de treinador em Portugal?
Prof. Manuel Machado:
É e faz-se por duas vias distintas. Uma mais tradicional mais impírica de mais fácil acesso que tem a ver com profissionais de nomear e temos o caso recente do Jorge Costa e do Paulo Bento, o que estou a tentar dizer é que dois bons jogadores que ao terminar acarreira tiveram logo quase de imediato a possibilidade de treinar ao mais alto nível. A outra é por via académica, especialização no treino desportivo e em futebol também tem vindo a ganhar algum corpo no mundo dos treinadores. Não é fácil nem por um nem por outro todavia os trajectos são distintos.

Fora de Jogo: Acha que é possível uma mulher chegar a treinadora profissional?
Prof. Manuel Machado:
Não é impossível mas não me parece que acurto prazo seja viável.

Fora de Jogo: Qual o estado do futebol português neste momento?
Prof. Manuel Machado:
É uma situação não muito fácil de ilustrar. Num plano mais genérico, mais abrangente está numa posição de dificuldade.Transparece todos os dias na comunicação social as dificuldades que os clubes têm para cumprir os compromissos que vão assumindo e por isso o quadro geral não vou dizer que é catastrófico mas de grandes dificuldades. Todavia há expoentes de clubes e de profissionais que o servem que de facto as coisas não estão num plano mais geral. Os três grandes clubes não estão neste quadro geral e os resultados da selecção nacional também contraria um pouco este estado “lastimoso” do futebol.

FDJ: A comunicação social pode contribuir para a formação de uma carreira tanto de jogador como de um treinador e moldar a massa associativa?
Prof. Manuel M.:
De alguma maneira sim. Não vou dizer que seja decisiva nesse plano mas que pode contribuir pode. É evidente que a comunicação social num plano mais abrangente não só no desportivo tem um peso muito grande. É um novo poder no que diz respeito à vida em sociedade…e de alguma maneira no desporto, por ser de fácil acesso, tem a força para se manifestar daí eu dizer que pode dar contributos forte para contribuir para que um jogador ou um treinador vá lá cima ou que caminho no sentido inverso eu dir-lhe-ia que sim.

FDJ: Dada a situação do futebol português não deveria haver uma aposta maior na formação?
Prof. Manuel M.: É complexo também isso. Vivemos num período de globalização e os requisitos que havia até agora de defender o produto interno, nomeadamente com medidas que restringiam a inclusão de estrangeiros em cada equipa diluíram-se. Hoje em dia não há limites, pode-se fazer uma equipa nacional praticamente com jogadores estrangeiros e por isso a questão da formação é penalizada por ai, ou seja, o nosso jogador tem custos em termos salariais após e há mercados alternativos que oferecem um produto por comparação de custo mais baixo logo a formação tem um enorme ponto de interrogação no binómio preço/qualidade. Se me põe a questão se era pessoa para apostar mais na formaçao dir-lhe-ia que sim mas agora há leis do mercado, como em qualquer outra área profissional, e o futebol não foge à regra daí haver mais jogadores estrangeiros nas nossas equipas sendo que quem sai prejudicado é o produto nacional que cada vez tem menos forma para se manifestar.

FDJ: É importante a inclusão de um psicólogo numa equipa profissional?
Prof. Manuel M.:
É, é importante claro mas agora isto joga com a questão do dinheiro. É preciso definir prioridades e é mais importante ter bons jogadores, bons técnicos do que ter de facto que são elementos que são de facto também muito importantes mas que são acessórios…um bom nutricionista, psicólogo, são sempre questões secundárias em relação aos primeiros elementos que citei.

FDJ: Quando tem alguma caso de um jogador que esteja mais abaixo de forma psicologicamente como costuma lidar com a situação?
Prof. Manuel M.:
É evidente que o plano psicológico não foge à regra, se um jogador em termos de rendimentos técnicos e físicos flutua durante a temporada no campo psicológico também que seja de ordem directa ou indirecta, que tem a ver com a sua vida particular, quando elas são detectadas e se evidenciam de modo continuada é preciso fazer alguma coisa no sentido da reabilitação do jogador e isso passa nomeadamente por tentar diagnosticar o problema e é evidente que na base do conhecimento que qualquer técnico tem, usá-los de acordo com cada caso tentar elevar o jogador ao nível de rendimento que ele já esteve e que tem capacidade para tal.

FDJ: Nota grandes diferenças na equipa quando sofre uma derrota ou um empate ou quando, pelo contrário, vence?
Prof. Manuel M.: É evidente porque o futebol é sempre ciclos e quando se trabalha em cima de ciclos de vidros todo o clima é perturbante… o contexto que o nosso dia a dia se desenrola fica perturbado por esses ciclos quer no sentido positivo quer no negativo. É muito mais fácil trabalhar numa onda positiva, todo o ambiente, toda a alegria, disponibilidade para trabalhar resulta muito mais…quando não é assim fica todo um clima tenso e o jogador sente a necessidade de inverter a situação.

FDJ: Com a época acabada, pode definir algum momento alto da sua equipa?
Prof. Manuel M.: Infelizmente a académica não teve grandes momentos, o seu rendimento foi bastante linear basta dizer que fez 13 pontos na primeira volta e outros 13 na segunda. Já assumi, a académica fez uma época a tanger a mediocridade e nesse contexto dir-lhe-ei que na época presente não houve momentos de exaltação… tivemos momentos mais ou menos interessantes como foi o caso da nossa prestação na Taça de Portugal. Depois temos momentos pontuais como a vitória em Aveiro que praticamente definiu a nossa permanência…mas são sempre vitórias menores e momentos de exaltação menores.

FDJ: Os adeptos são um contributo importante para a prestação da equipa dentro do relvado?
Prof. Manuel M.:
São um contributo. Não é algo que se torna muito evidente em Coimbra por força do espaço onde jogamos que não é um espaço traçado especificamente para o futebol. É um estádio demasiadamente grande em que as bancadas estão colocadas demasiadamente longe e os 5 mil ou 6 mil assistentes que temos tivemos em média nos jogos e por muitos esforços que façam, e fica aqui uma palavra de agradecimento pelo apoio que sempre deram, acabam por se perder naquela imensidão de espaço. Em espaços diferenciados, num estádio tipo o do Paços de Ferreira, menos metade dos assistentes podem dar um contributo um apoio, um despoletar de forças escondidas por parte dos jogadores tornam-se assim muitas vezes um apoio decisivo.

FDJ.: Tem vários jogadores aqui que estão a tirar licenciaturas. Na sua opinião, é importante manter esta essência no clube?
Prof. Manuel M.: Não são muitos atletas com essa duplicidade de acção. Julgo que com tolerância e ajudando cada momento é possível que esses atletas continuem um bom empenho profissional como futebolistas e de uma forma desacelerada façam a sua carreira académica. Nesse contexto há alguns exemplos, o Nuno Piloto é o expoente maior do que eu ilustrei, não é uma situação optimizada porque o profissionalismo hoje é muito exigente mas se concentrarem prioritariamente numa das áreas fazendo de uma forma mais desacelerada o outro trajecto é possível de facto criar esse equilíbrio (…) Agora não é fácil, só com bom senso de parte a parte é que se consegue que aquilo que eu atrás enunciei acabe por se materializar (…) A Académica
é uma associação de particularidades no que diz respeito a estes factores, é um clube inicialmente ligado à academia, depois tem uma extensão do organismo autónomo que é o futebol profissional e a tentativa da manutenção daquilo que é tradição da académica no seu clube de futebol numa realidade de alta exigência, de alta competitividade como é o futebol
moderno não é fácil.

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