domingo, 12 de agosto de 2007


MUNDO ULTRA

Muitas vezes a palavra ultra é associada a violência, vandalismo, droga…As claques organizadas portuguesas só são noticiadas quando provocam algum desacato.
Mas afinal, o que move o mundo das claques, das coreografias e das faixas que tanta gente teima em criticar?!
Seja o Benfica, o Paços de Ferreira ou a Académica… seja um clube que esteja em primeiro lugar ou em último… hoje em dia quando uma equipa sobe ao relvado já conta com a presença de alguns fiéis que estão lá só para os apoiar. “Na vitória convosco, na derrota convosco, estamos sempre convosco, não vos deixaremos mais” é um cântico entoado por quase todas as claques porque, realmente, é toda uma paixão pelo clube que os move e, muitos deles, dariam a sua vida para equipa alcançar os três pontos.
A semana é passada a pensar na coreografia do jogo seguinte ou na deslocação. Aí são impostas várias questões: Aluga-se camioneta?! Há muita gente?! Fazemos uma bandeira nova?! E os bilhetes, a quanto estão?!
Enfim…há toda uma série de mecanismos que têm que obrigatoriamente que ser tratados.
Muitas vezes a família, os amigos “comuns” e até os estudos ficam para trás…é preferível fazer uma directa ou duas a trabalhar e poder ir ao jogo, conviver, criar laços de amizades…sim, porque pertencer a uma claque não é só para apoiar o clube do coração, há muitas iniciativas extra-campo que, como é obvio, não vêm a público mas que têm como finalidade a promoção do bem estar e de uma vida mais saudável.
Exemplos?! Corridas contra o racismo, participação em movimentos associativos…incentivo a miúdos de instituições e de bairros mais degradados a irem aos jogos.
E não pensem que quem pertence a um grupo organizado são só pessoas sem formação académica ou de um nível socio-económico baixo…eu, por exemplo, conheço advogados, engenheiros, antropólogos…
Agora se me pedirem para pôr em palavras o sentimento que os move, eu simplesmente não consigo. Um ultra vive o clube de uma forma muito particular e tem consciência que só quem “está lá dentro” é que o entende não se preocupando muito em explicar à sociedade o porquê de estar ali. Preocupa-se sim se desaparece uma faixa, se não há dinheiro para alugar um autocarro ou se acontece alguma coisa a um dos seus companheiros… Ser ultra, define-se apenas com duas palavras: “Semper fidelis”

FUTEBOL MODERNO


Já lá vai o tempo em que um jogador entrava em campo por amor à camisola e em troca de “meia dúzia de tostões”, comida e equipamento.
O futebol era a festa do povo, por vezes, aos domingos, começava a rolar a bola às nove horas da manhã com os infantis e acabava as cinco da tarde com os seniores. As famílias iam todas, era uma forma de passar o domingo, de conviver e…sem grandes custos.
Isto depois de se passar a fase que o “futebol era só para os homens” e quando as mulheres começaram a infiltrar-se naquilo que muitos consideravam o seu escape.
Começou-se a ouvir mais berros, mais bocas aos árbitros, aos adversários… “oh guarda-redes és todo jeitoso”, ouvia-se por vezes uma senhora gritar na tentativa de o distrair de um ataque.
Enfim, velhos tempos…
Hoje em dia, o futebol modernizou-se, fizeram-se estádios novos, capitalizaram-se os clubes.
O que movimenta o futebol são os empresários, as SAD’S e…o dinheiro. Uma família inteira para ir ao futebol só se for pedir. Bilhetes a 20 e 30 euros é incomportável para a maioria dos portugueses. Foi retirado ao povo aquilo que ele tinha de melhor.
Claro que há a televisão…sim a televisão que, geralmente, passa os melhores jogos em canais fechados…Lá está, outro fenómeno do futebol moderno, a pay tv. Fazem-se horários e marcam-se datas de jogos consoante a programação do canal, canal esse pago.
Muitas mudanças que diluíram a essência do futebol. O futuro prevê-se “negro” no que diz respeito à inversão desta tendência. São contratados cada vez mais jogadores estrangeiros, os bilhetes tendem a aumentar, os estádios vão ficando vazios aos poucos.

sábado, 11 de agosto de 2007

JOEANO - 2


Joeano, a “estrela” da académica. Talvez devido à sua posição,avançado, geralmente é ele quem dá as alegrias aos adeptos ao marcar na baliza adversária.




Fora de Jogo: Pode-me falar um pouco da sua carreira?Joeano: Comecei muito novo a jogar no Fortaleza, tive uma passagem porItália, depois regressei ao Brasil e vim para Portugal com uma suposta proposta de um clube de primeira divisão,cheguei cá e não tinha nada…fui então para o Arrifanense.

Fora de Jogo: Um empresário pode influenciar muito na carreira de um jogador?
Joeano: Influencia 100%, o meu empresário quando eu estava no Sanjoanense não fazia nada por mim e, se eu tivesse continuado com ele, hojenão estava na Académica.

Fora de Jogo: Quando existe uma lesão estar no clube certo pode ser a solução para uma boa recuperação?
Joeano: É evidente…eu acho que quando se tem pessoas mais competentes ao nosso lado, para nos tratar as coisas tornam-se mais fáceis mas isso também pode ser muito relativo.

FDJ: Alguma vez pensou que a carreira de um jogador pode acabar facilmente com uma lesão?
Joeano: Eu acho que se pensarmos isso no dia a dia fica complicado trabalhar. Passa-me ao lado…se estivermos a pensar sempre nesse tipo de coisas nunca damos o nosso melhor nem nunca estamos a 100% no campo.

FDJ: A sua adaptação foi complicada?
Joeano: Foi complicada, o frio, estava longe da minha família. Sempre tive o apoio da minha família. Olhand para trás valeu mesmo a pena o esforço.

FDJ: Na sua opinião como foi a época da académica?
Joeano: O objectivo foi cumprido, a manutenção, mas acho que a académica por aquilo que tem feito e pelos jogadores individuais tem que fazer mais e melhor. Mas é complicado fazer uma equipa de uma época para a outra…tem que se dar tempo ao treinador para construir uma equipa mais coesa.

FDJ: Então quer dizer que na próxima época a académica, caso mantenha o plantel, pode ter outro tipo de objectivos?
Joeano: Se não mandarem jogadores embora acho que tem meio caminho andado para concretizar os objectivos, até digo mais… para lutar pela UEFA.

FDJ: É complicado conciliar a sua vida pessoal com a profissional?
Joeano: Eu acho que não, já sou profissional há dez anos e já estou habituado. É complicado quando queremos estar com a familia ao domingo, por exemplo, e temos jogo... mas também temos um período de tempo de férias bom e acabamos por nos habituar.

FDJ: Acha que existe casos de doping?
Joeano: É usual, é normal. Qualquer clube usa nos limites. Na alta competição é normal.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

ALEXANDRE - 5



Alexandre Messiano foi uma das contratações da época da Académica. Com 28 anos de idade, o médio defensivo brasileiro jogou anteriormente no Corinthians Alagoano. Antes de subir ao relvado só pede “a Deus para que não se aleije e que vença o melhor!”.









Fora de Jogo: Como costuma passar os seus tempos livres?
Alexandre:
Procuro ficar mais com a família. Nas folgas fico com a minha filha que está ainda a conhecer o mundo e desfruto a cidade com a minha família.

Fora de Jogo: É muito difícil conjugar a vida pessoal com a profissional?
Alexandre: Para mim já é natural, o futebol é a minha vida e a oportunidade que eu estou a ter muitos queriam ter e não têm… mas claro que tenho momentos que tenho que estar ciente do que acontece lá fora não adianta as coisas estarem a acontecer e a gente não saber de nada.


FDJ: A família sempre o apoiou para seguir a carreira de futebolista?
Alexandre: O meu início foi um pouco complicado, o meu pai não aceitou mas a minha mãe deu-me a maior força. Como eu era um menino novo, estava a estudar e até a trabalhar e sempre ajudei em casa. Hoje, eu consegui trabalhar e construir uma carreira com muito esforço e dou-lhes apoio (…). Hoje se tiver q u e incentivar algum menino eu vou dar o maior apoio a ele porque com o futebol conhece-se muita gente e não se fica na rua a conviver no meio da droga e da violência.


FDJ: A adaptação quando chegou foi complicada?
Alexandre: Foi tranquila porque em 2004 vim para o Vitória de Guimarães e a adaptação foi muito boa. Agora vim para Coimbra, cidade muito bonita, por isso foi muito fácil. Também há muitos brasileiros na equipa o que facilita bastante.

FDJ: É importante para a adaptação haver brasileiros na mesma equipa?
Alexandre: A mesma coisa, tenho um jeito descontraído, fácil de fazer amizade e os portugueses correram muito bem e a língua facilita bastante.

FDJ: E a adaptação ao futebol, foi fácil?
Alexandre: Tive que mudar um pouco já que o futebol português é mais rápido que o brasileiro…

FDJ: Com uma sociedade onde predomina a violência, a droga, o álcool será que o desporto não pode contribuir para que a situação se inverta um bocado?
Alexandre: Sem dúvida. O Brasil é um país que a violência está muito grande e não só o futebol mas todos os desportos são muito importantes para que as crianças saiam das ruas e vão praticar… o desporto faz com que as crianças cresçam como pessoas e saiam das ruas… para além de aprenderem uma profissão. O futebol brasileiro é um dos melhores do mundo mas o nosso [português] não fica muito atrás devido às características dos jogadores…tive que mudar um pouco as minhas características mas não muito.

FDJ: E o clima?
Alexandre: O clima é complicado mas nós temos que procurar nos adaptar ao país…o verão é muito quente mas o Inverno é muito, muito frio…mas nada que me preocupa.

FDJ: É complicado chegar à primeira divisão portuguesa?
Alexandre: Sem dúvida, em 2004 o campeonato era muito bom mas tem melhorado muito e as equipas que estão na primeira liga tirando os três grandes, estão muito iguais… então é uma disputa muito grande e ninguém quer descer porque depois é difícil subir.

FDJ: Foi no Brasil que apareceram as primeiras claques. Hoje em dia estas estão directamente agregadas à violência. Quais são as principais diferenças que encontra em relação às portuguesas?
Alexandre:
Cá são bem mais tranquilas que lá no Brasil. A cobrança lá é muito grande porque há muita rivalidade entre os clubes. Há muita violência… hoje em dia é complicado ir a um jogo com a família porque nunca se sabe o que vai acontecer. A civilização aqui é muito mais educada e a minha mulher e a minha família vão ao estádio tranquilamente… É claro que a violência não leva a nada, violência gera violência, aqui os jogadores têm que se auto cobrar e como cá há muito menos [cobrança] é claro que há jogadores que se acomodam ao lugar…aqui temos que nos cobrar uns aos outros para alcançar uma boa posição no campeonato.

FDJ: Que campeonatos costuma acompanhar além do português?
Alexandre: O inglês e o espanhol para aprender alguma coisa.


FDJ: O nível de exigência é completamente diferente em relação ao português. Algum dia o nosso campeonato poderá assemelhar-se ao inglês ou ao espanhol?
Alexandre: É diferente, devido à situação financeira ser muito superior. É claro que o campeonato português para mim evoluiu muito, é muito mais difícil a nível de competitividade
do que quando cheguei. O futebol vai evoluindo para que se chegue a um nível muito bom…

FDJ: O Alexandre é dos poucos jogadores que não tem empresário. O que o levou a tomar esta decisão?
Alexandre: Sim o meu passe pertence a mim mesmo... já tive empresário mas acho que hoje em dia os empresários estão a complicar muito, é claro que hoje a maioria dos clubes depende deles mas a maioria acaba por atrapalhar o profissional… às vezes o clube quer um jogador e ele acaba por o levar para outro.

FDJ: O empresário tem um papel na vida do jogador activo pois para além de tratar da carreira do jogador também cuida da imagem. Não acha que saiu prejudicado ao ter o seu próprio passe?
Alexandre: Estou um pouco arrependido, por exemplo, tive no Brasil em 2005 a oportunidade de entrar noutras equipas e não fui porque os empresários queriam uma percentagem no caso da transferência. E como o passe era meu eu não achei justo porque ate é o jogador que dá o espectáculo e é ele que tem que ser remunerado. Hoje a maioria dos empresários ganham mais que o jogador…mas a realidade é esta, os empresários coordenam o futebol todo.

FDJ: Hoje em dia o futebol é um negócio. Os preços dos bilhetes são elevados e as pessoas deixaram de ir assistir aos jogos. Até que ponto é que a falta de público pode influenciar no desenvolvimento de um jogo?
Alexandre: Sem dúvida os espectáculos foram apagados devido aos preços altos. Nós ficamos tristes porque gostávamos de ver o estádio cheio e a torcida a aplaudir o jogador...[Influência] em tudo porque é bonito. Eu particularmente tive a oportunidade de ver os estádios cheios…um jogador fica empolgado, o espectáculo fica muito mais bonito e os jogadores tentam fazer um espectáculo mais bonito…

FDJ: Já pensa no que vai fazer depois de acabar a carreira?
Alexandre:
A gente tem que pensar no futuro, por muito distante que esteja está próximo. O futebol é uma carreira muito curta e eu já estou a ver com a minha família… [vou-me dedicar] à
preparação física principalmente para ajudar as crianças na minha cidade no interior de S. Paulo (…) eu estou a ter oportunidade de jogar aqui futebol e quem sabe se, de hoje para amanhã consigo dar essa oportunidade a alguém também.

FDJ: É muito difícil chegar à titularidade?
Alexandre:
É complicado porque são só onze que entram e todos querem jogar num plantel que tem de 25 a 30 jogadores eu já passei por isso, às vezes ficava chateado porque queria jogar e participar mas com o tempo e com a experiência percebi que o mais importante é fazer um trabalho bem feito porque uma hora ou outra vou ter a oportunidade… o futebol hoje em dia
está muito nivelado. Eu procuro quando entrar dentro do campo fazer o meu melhor porque o trabalho uma hora ou outra vai ser reconhecido.

FDJ: Com uma sociedade onde predomina a violência, a droga, o álcool será que o desporto não pode contribuir para que a situação se inverta um bocado?
Alexandre: Sem dúvida. O Brasil é um país que a violência está muito grande e não só o futebol mas todos os desportos são muito importantes para que as crianças saiam das ruas e vão praticar… o desporto faz com que as crianças cresçam como pessoas e saiam das ruas… para além de aprenderem uma profissão.

FDJ: Considera importante a presença de um psicólogo numa equipa?
Alexandre: Sim eu acho importante porque quando estava no Brasil lá tem muito isso, principalmente na fase que algumas equipas chegavam a grandes decisões…os jogadores ficam um pouco tensos… e você é um ser humano igual a todos os outros e tem os seus problemas fora de campo, na vida pessoal e às vezes você não desabafa e depois entra em campo e às vezes chateia-se com os companheiros sem motivo…é importante sim para o desenvolvimento dentro de campo e para a vida pessoal.

BRUM - 6



Roberto Brum, trinco da Académica, é uma escolha regular no onze inicial de Manuel Machado. Quando o “Fora de jogo” o foi entrevistar, ele nesse mesmo dia, tinha oferecido uma camisola oficial sua a um rapaz, o Mauro, que na jornada anterior tinha feito uma cartolina a pedir-lha.




Fora de Jogo: Em primeiro lugar não posso deixar de lhe perguntar o que sentiu ao ver a cartolina a pedir-lhe a camisola?
Brum: Vi a cartolina só nos jornais, foi um facto que já tinha acontecido e tinha passado despercebido da minha parte. O ideal teria ser dado no dia do jogo mas, como não vi, achei que estava em falta e pensei imediatamente em dar-lhe a camisola.


Fora de Jogo: Muitas vezes vocês não se apercebem do que se passa nas bancadas…é importante os jogadores responderem a estem tipo de iniciativas?
Brum: Concerteza, no dia que o futebol perder a paixão, a ligação directa dos adeptos como jogadores é melhor que o futebol acabe. O futebol é feito para quem se disponibiliza a sair de
casa, comprar uma camisola, gastar toda uma quantia de dinheiro…ir com a família ao estádio. Nós artistas, que estamos no “palco” temos que retribuir com um bom espectáculo e com estes pequenos gestos.


Fora de Jogo: O futebol moderno tem tendência a abrir uma lacuna entre o adepto e o profissional. Não será esse um dos motivos que leva a cada vez menor aderência do público a um jogo de futebol?
Brum: Sim eu acho que são vários factores que provoca isso. Primeiro é a situação económica, outra a organização porque há países em que se veêmmos estádios todos cheios e também um bom futebol. Hoje o lado comercial atrapalha muito a falta de público no estádio. Os clubes desconsideram se um jogador tem uma afinidade pela camisola que veste ou não, é visto como uma mercadoria.


Fora de Jogo: Costuma ver as manifestações que os adeptos demonstram?
Brum: O jogador normalmente no jogo está muito concentrado, vê e escuta as manifestações e a “cobrança” chega sempre ao seu destino. Eu estou sempre muito concentrado no jogo, ver o que adversário pode fazer então, os mínimos detalhes, por vezes são só vistos ou antes ou no fim da partida.


FDJ: Costuma ser titular indiscutível no plantel. No jogo contra o Porto foi convocado mas não chegou a entrar em campo. Qual foi o sentimento que teve?
Brum: Sim fiquei de fora pela primeira vez em 5 anos. O jogador tem que estar preparado para isso, para as decisões do treinador, mas também é ser humano, tem sentimentos e é normal
ficar triste…um jogador tem mesmo que ficar assim, não se pode acomodar… se for para se acomodar mais vale “pendurar as chuteiras”.


FDJ: No estado actual do futebol, ainda existe “amor à camisola”?
Brum: Existe, eu acho que existe. Há jogadores que não jogam só pelo dinheiro. O povo português é apaixonado pelo futebol e acho que muitos jogam também pelo prazer e não pelo
dinheiro…mas também tem que sobreviver. O jogador joga porque ama jogar e se poder ser bem remunerado junta o útil ao agradável.


FDJ: É difícil chegar à primeira divisão?
Brum: A competitividade é muito grande tanto em Portugal como no Brasil… Para um jogador é preciso muito trabalhos e muito esforço e tem que abdicar de muitas coisas, muitas coisas mesmo para chegar a profissional ou à primeira divisão.


FDJ: No Brasil é preciso ter mais “cabeça” para ser profissional do que na Europa?
Brum: Sim, a desigualdade no Brasil é muito grande e o povo é um pouco vítima do sistema. Tenho amigos meus que tinham mais ou tanto talento como eu e que se perderam em drogas,
outros morreram, outros estão presos.


FDJ: Um jogador brasileiro tem, na maioria, o objectivo de jogar na Europa?
Brum: No Brasil todos têm o mesmo objectivo, se for fazer lá algumas entrevistas, parece que foi tudo gravado “Graças a Deus consegui chegar ao profissional, agora o meu objectivo é fazer um bom campeonato brasileiro, ir à selecção e depois ir para a Europa”.


FDJ: Quando veio para a académica tinha noção da conotação do clube?
Brum: Sim já tinha amigos que jogavam aqui, o Danilo e o Lira, e eles falavam-me de como era o clube. Quando cheguei aqui já sabia de tudo.


FDJ: Foi importante os seus colegas brasileiros para a sua adaptação?
Brum:
Eles são amigos meus muitoqueridos mas os portugueses sãomuito acolhedores e hoje tenho muitos amigos portugueses e sinto-me “em casa” cá em Portugal.


FDJ: Tem algum ritual?
Brum: Um jogador de futebol geralmente é muito supersticioso. Eu antigamente
também era…mas desde que entreguei a minha vida para Jesus Cristo não preciso mais dessas coisas.


FDJ: E o número não foi por nenhuma razão em especial?
Brum: O numero foi, eu lá no Brasil jogava com a oito, cá como não estava disponível a primeira época joguei com a 88 mas depois um amigo meu, adepto da académica, disse-me que cá em Portugal os trincos jogam com a 6, então eu mudei porque ele m
e pediu.

PAULO SÉRGIO - 8




Paulo Sérgio, médio defensivo da Briosa, chegou esta época do Moreirense e, tal como em toda a sua carreira, teve um processo ascendente no clube. Começou por se sentar no banco de suplentes mas, jornada após jornada, conseguiu conquistar a titularidade na equipa.



Fora de Jogo: Foi complicada a adaptação quando veio para Portugal?
Paulo Sérgio: Foi uma história muito complicada por causa do meu empresário mas eu consegui passar essa barreira com muita força de vontade… No inicio é sempre complicado e ir para outro completamente diferente, a nível de clima e de ambiente.


Fora de Jogo: O empresário pode influenciar na carreira de um jogador?
Paulo Sérgio: Pode, infelizmente pode.


Fora de Jogo: Depois dessa situação continua a confiar plenamente no seu actua empresário?
Paulo Sérgio:
É importante e a situação anterior serviu para eu abrir os olhos. Eu confio nele ate certo ponto, isto gera muito dinheiro e temos que estar sempre atento.


FDJ: O seu percurso em Portugal foi ascendente. Jogou na segunda divisão B e na Liga de Honra. É complicado chegar à Liga principal?
Paulo S.: É complicado para todos. Se o jogador for determinado, se quiser vencer, consegue chegar.


FDJ: Que outros campeonatos costuma acompanhar?
Paulo S.: Liga espanhola, inglesa, italiano…gosto muito de ver, gosto muito de futebol.


FDJ: É possível o nosso campeonato chegar ao mesmo nível?
Paulo S.: Pode, é possível. Se tiver pessoas à altura como em Inglaterra e em Espanha o campeonato pode ter muito mais valor.


FDJ: Quais são os factores principais para a reviravolta?
Paulo S.:
Depende dos clubes, se são melhor organizados ou não. Em primeiro lugar um jogador tem que estar muito bem preparado para jogar ao domingo e à quarta e neste momento não está.


FDJ: É importante a presença de um psicólogo no plantel?
Paulo S.: Acho que é muito importante porque só ajuda os jogadores. Somos seres humanos e por vezes os problemas da nossa vida particular reflectem-se em campo.


FDJ: Tens algum ritual antes de entrar no jogo?
Paulo S.:
Não, não tenho.


FDJ: O que costuma fazer nos tempos livres?!
Paulo S.: Passear, ir ao cinema, jogar playstacion...


FDJ: É difícil conjugar a vida pessoal com a profissional?
Paulo S.: Não me afecta em nada porque isso vem da forma de pensar, não trago para cá os meus problemas é o mais importante.


FDJ: Sempre tiveste apoio para seguires a tua carreira de futebol?
Paulo s.: Sim, todos me apoiaram inclusive a minha mãe que me ajudou muito.


FDJ: E o número da camisola, foi escolhido por alguma motivo em especial?
Paulo S.:
Sim, desde os juniores que jogo com a camisola oito. Na altura não escolhi por nenhum motivo em especial mas ficou até hoje…


FDJ: O preço dos bilhetes têm subido bastante. Qual é a sua opinião em relação a esta questão?
Paulo S.: Eu acho que é uma situação que os clubes têm que ver. O preço dos bilhetes para uma pessoa que tem o salário mínimo fica muito caro e era bom baixarem os bilhetes para trazer mais gente para o estádio
.

FILIPE TEIXEIRA - 10


Filipe Teixeira, o “número 10” da académica é dos jogadores que mais se destaca no plantel. Joga desde pequeno tendo-se feito a sua formação no Felgueiras. Já teve uma experiência, embora curta, na liga francesa. Está há duas épocas na Académica com um pé entre “a saída e a permanência” no clube. Embora admita que “não liga muito a criticas” o facto é que a comunicação social não deixa de o elogiar sistemáticamente


Fora de Jogo: Quais são os seus hobbies?
Filipe Teixeira:
Gosto muito de estar em casa, ir cinema, passear… mas fundamentalmente é estar em casa a ver dvd’s…uns jantares, uns almoços com os amigos.



Fora de Jogo: A família sempre o apoiou para seguir a carreira?
Filipe Teixeira: Sim, sempre me apoiou muito, desde criança, desde os 7 anos que jogo futebol e sempre tive o apoio necessário.



Fora de Jogo: Quais são os seus ídolos?
Filipe Teixeira: Idolos? Quando era mais novo tinha o Rui Costa talvez por ser um jogador de uma posição que eu gosto. Também o Figo…neste momento Cristiano Ronaldo… são jogadores que admiro.



FDJ: Como jogador de futebol e com todo o mediatismo que a sua profissão envolve, é reconhecido na rua. Qual é a sensação?
F.Teixeira: É bom mas é uma sensação normal. Nós como jogadores estamos sujeitos a esse tipo de coisas e encaramos isso com normalidade e tranquilidade.



FDJ: Que campeonatos costuma acompanhar?
F.Teixeira: Inglês, espanhol e um pouco do francês.



FDJ: Alguma vez o campeonato português vai conseguir chegar ao nível dos que acompanha?
F.Teixeira:
Será muito difícil. Em Inglaterra, qualquer jogo, mesmo da segunda divisão, têm os estádios cheios e isso não acontece aqui e é complicado ver jogos da primeira divisão com 300/400 pessoas. Por esses factores e pelos factores económicos é que penso que será muito difícil Portugal chegar a esse nível.



FDJ: Não acha que se calhar um dos motivos é o preço incomportável dos bilhetes?
F.Teixeira: Penso que é uma das coisas que se poderia fazer, talvez o sindicato dos jogadores também para chamar mais gente aos estádios, por exemplo, 5 euros era um bom preço.



FDJ: Qual a importância do adepto nomeadamente da Mancha Negra na contribuição para um bom espectáculo?
F.Teixeira: É importante, fundamental para uma equipa ter uma claque que possa seguir quer em casa quer fora. Torna-se um incentivo para os jogadores quer nos bons quer nos maus momentos.



FDJ: Já pensa no que vai fazer quando acabar a carreira ou é uma situação que ainda não o preocupa?
F.Teixeira: Preocupar não me preocupa muito mas estamos sempre sujeitos a pensar nisso porque um dia vamos ter que parar de jogar futebol. Uma opção é continuar no ramo do futebol mas neste momento ainda não penso muito nisso.



FDJ: Ultimamente têm-se desenvolvido várias iniciativas no âmbito da presença de um psicólogo numa equipa de futebol. Considera importante?
F.Teixeira: Não sei, talvez fosse bom…tentaram fazer isso uma vez num clube que eu representei em França mas não foi muito bem aceite pelos jogadores. Aqui penso que poderia ser [favorável] … se há outros clubes nos outros países e se é aceite porque não aqui em Portugal? Se beneficiasse o nosso rendimento porque não…



FDJ: Tem algum ritual?
F.Teixeira: Só me costumo benzer.



FDJ: Quais foram as principais dificuldades que encontrou para chegar à primeira divisão?
F.Teixeira:
É uma questão de oportunidades e quando elas surgirem agarra-las da melhor forma. É fundamental ter sorte, pode-se ser muito bom mas se não tiver sorte dificilmente
se consegue atingir o objectivo.



FDJ: A formação é importante no futebol?!
F.Teixeira:
Penso que sim visto que economicamente os clubes precisam de fazer dinheiro, porque têm jogadores de qualidade, que muitas vezes são mal aproveitados e que devem ser
melhor estudados e trabalhados por parte dos clubes.



FDJ: Qual a importância da comunicação social na vida de um jogador ou mesmo de um clube?
F.Teixeira:
Tanto pode prejudicar como beneficiar. Eu particularmente não dou muita importância ao que sai no jornal. Preocupo-me com aquilo que faço e não com aquilo que as
pessoas possam dizer. É sempre bom ouvir falar bem e as vezes as criticas também são benéficas mas não me costumo preocupar com isso.

MEDEIROS - 14




Medeiros, defesa central e jovem promessa do futebol português. Nasceu em França e foi lá que se formou enquanto jogador de futebol. Regressou há duas épocas ao seu “segundo país” onde vestiu a camisola do Vitória de Guimarães. Entrou este ano em
Comunicação Social sendo um dos jogadores que não deixa quebrar a tradição da briosa ser o “clube dos estudantes”.


Fora de Jogo: A sua formação como jogador foi em França. A diferença do futebol francês para o português é muito grande?
Medeiros: Não, os clubes profissionais têm praticamente as mesmas condições de treino e a nível de qualidade também é ela por ela…





Fora de Jogo: Como foi o processo de adaptação?
Medeiros: Adaptei-me bem porque já vinha de férias para Portugal. Os meus pais são portugueses e já conhecia o país… adaptei-me bem quer a nível de mentalidade quer de coisas
portuguesas.





Fora de Jogo: Veio para Portugal por opção ou quis regressar ao país?
Medeiros: Ofereceram-me um contrato no Varzim e eu vim para cá…





FDJ: A família sempre o apoiou para seguir o seu sonho?
Medeiros:
Sim, o meu pai sempre gostou muito de futebol e como as coisas estão a correr bem e estou feliz também estão felizes por mim também… é sempre importante o apoio da família porque é mais um incentivo para tentar conseguir ser melhor.





FDJ: Sendo luso-francês o coração “tomba” para que lado?
Medeiros: Gosto muito de Portugal mas o meu coração vai para França porque tenho lá a família toda e foi lá que vivi mais tempo.





FDJ: Já jogou no Guimarães antes de vir para a Académica sentiu mais pressão por parte dos adeptos em alguns dos clubes?
Medeiros:
Mais pressão em Guimarães…Sim há mais pressão mas eu prefiro jogar assim…é sempre bom ver muitos adeptos nos treinos e também no estádio.





FDJ: Como se sente quando um jogo não lhe corre tão bem e é, por exemplo, assobiado?
Medeiros:
Ser assobiado é normal, quando falhamos um passe ou assim (…) não nos pode afectar muito porque são coisas que estamos sempre sujeitos e temos que estar habituados.





FDJ: É complicado conciliar as aulas com os treinos?
Medeiros:
Não, não é complicado porque fiz um horário flexível…está a correr bem...foi complicado no início porque já não estudava há muito tempo e é bom voltar a estudar e a aprender algumas coisas…





FDJ: Pensa pôr em prática os seus conhecimentos da licenciatura quando acabar a carreira?
Medeiros: Não, só vou pensar nisso quando acabar o futebol, no fim de carreira. Por enquanto, penso que, se temos oportunidade de continuar a estudar temos que aproveitar porque a vida de um jogador é curta e nem todos ganhamos bem a nossa vida e quando acabamos o futebol é complicado (ou pode acabar com antecedência por causa de lesões) e é sempre bom ter um suporte a nível de estudos.





FDJ: Era comunicação social que queria seguir?
Medeiros: É uma área que gosto e foi uma opção que eu tomei… mas só o tempo dirá se sigo essa área ou não (…) até agora estou a gostar.





FDJ: Tem algum ídolo?




Medeiros: Não tenho, mas gosto muito da maneira de jogar do Zidane e do Maradona.





FDJ: É importante o adepto num estádio de futebol?
Medeiros: Sim claro que é muito bom quando estamos a jogar em casa e fora termos um apoio porque nos incentiva mais para os jogos





FDJ: É importante a presença de um psicólogo num clube?
Medeiros:
Não sei acho que isso depende de cada pessoa…alguns jogadores conseguem gerir essa parte psicológica outros não conseguem lidar da mesma maneira o problema (…) cada pessoa gere os seus conflitos à sua maneira.





FDJ: Tem algum ritual?
Medeiros: Benzo-me 3 vezes.





FDJ: Estava em campo quando aconteceu o acidente com Feher. Na sua opinião o caso despertou mentalidades? O que mudou?
Medeiros: Para já começamos a fazer mais exames ao coração e de esforço, passou a ser praticamente obrigatório e abriu as mentes aos jogadores, pelo menos para mim que penso que agora tenho que aproveitar a vida porque de um momento para o outro pode acontecer (…) no momento pensei que não fosse real, só mesmo quando cheguei a casa nos dois / três dias seguintes e revi na televisão é que entrei em choque (…) no inicio não me apercebi até pensei que ele estava a simular uma lesão como a equipa e estava a ganhar, estava a 2 metros dele e até lhe virei as costas depois quando vi os colegas é que me apercebi que era grave.

EDUARDO - 15




Eduardo, terceiro guarda-redes da académica formou-se no lousanense. Já vestiu a camisola de outros clubes na região centro mas sempre emprestado pela Académica. Espera a sua oportunidade no plantel principal da associação saindo de cada treino a pensar ”hoje dei tudo
e senti-me bem e estou preparado para ajudar a equipa”




Fora de Jogo: É complicado conseguir chegar à baliza principal?
Eduardo: Eu penso no presente, não estou a pensar no futuro, o meupresente é aqui até ao final da época… eu penso dia a dia, treino a treino…jogo a jogo…tentar trabalhar para quando for chamado tentar ajudar a equipa da maneira que eu posso e que sei. A minha preocupação é unicamente tentar jogar, dar o meu melhor e se não jogar tentar ajudar os meus colegas.



Fora de Jogo: Como licenciado alguma vez pensou em deixar a carreira futebolística para exercer?
Eduardo:
Eu pondero sempre todo o tipo de situações porque o futebol é sempre uma coisa complicada. Umas vezes as coisas conseguem estar melhor outras vezes não se proporcionam. É sempre uma hipótese que nunca me refuto. Eu sei que um dia, mais cedo ou mais tarde, vou estar ligado ao desporto e ao ensino porque é a minha área (…). O meu sincero objectivo é continuar a jogar como profissional mas não descarto as outras situações.



Fora de Jogo: Numa sociedade onde cada vez mais a droga e a violência tendem a enraizar-se, qual o papel do desporto, principalmente para os jovens?
Eduardo: Eu acho que é extremamente importante. De uma forma como criar pratica desportiva regular para além de evitar que os jovens sigam caminhos menos positivos (…) como também para ganhar determinadas regras: saber estar em grupo, hábitos de higiene, esse tipo de coisas (…) penso que é fundamental. O desporto tem vários objectivos específicos e gerais, as pessoas as vezes dão demasiado valor ao aprender a jogar, ao saber determinados skills técnicos mas às vezes esquecem-se de coisas importantes, como a prática de higiene, a prática de desporto como uma forma saudável. Penso que o desporto contribui e vai contribuir sempre porque cada vez mais as pessoas não tem tempo nem para tomar conta dos filhos mas tem que se começar a criar uma rotina de praticar desporto porque só assim é que vamos ter uma sociedade mais saudável.



FDJ: O futebol e os clubes em geral vivem sérias dificuldades financeiras mas continuam a ir buscar ditos craques ao estrangeiro em detrimento dos portugueses. Acha importante os clubes apostarem um pouco mais na formação?!
Eduardo: É assim isso já depende das politicas dos clubes profissionais. Eu tenho uma ideia muito própria que passa, logicamente, por uma aposta na formação. Portugal já deu provas no estrangeiro, em grandes competições de jovens, que temos um potencial muito grande que tem que ser explorado a todo o custo e canalizado para as equipas profissionais portuguesas.
Os nossos jovens têm cada vez mais demonstrado que têm qualidade para se afirmar nos campeonatos europeus e, se há qualidade para se afirmar nos campeonatos europeus, também há para o português. Os clubes têm que pensar cada vez mais nesse ponto porque só assim é que podemos ter melhores jogadores, só assim é que a nossa selecção pode ser cada vez melhor e penso que a formação é e será sempre, e tem que ser, cada vez mais a base para o nosso futebol.



FDJ: Já alguns anos que dinamiza o projecto “Futmania”, uma escola de futebol dos 5 aos 12 anos. Pode-me falar um pouco dele?!
Eduardo: É um projecto que começou quando terminei o curso, trabalho em cooperação com o Clube Desportivo Lousanense e que visa formar e criar condições para os jovens da Lousã e daquela zona, tenta-se criar condições de trabalho, de materiais, de recursos humanos (…) também procuramos treinadores com qualidade de formação e humana. [Os objectivos passam por] tentar criar todos os hábitos de higiene, de organização, de saber estar em grupo (…) esses objectivos que, no fundo, regulam qualquer desporto colectivo e no fundo passam também para a vida cá fora, para além de se tentar formar jovens jogadores de futebol com determinados princípios bem vincados em termos desportivos.



FDJ: Como profissional de futebol é difícil conciliar a sua vida pessoal com a carreira? Há coisas que os jovens “normais” podem fazer mas que um jogador de futebol não pode…
Eduardo: Eu costumo gerir bem essa situação. Costumo fazer uma alimentação equilibrada, só dou uma “saltada” nas ferias um pouco para desanuviar, gosto de vir treinar e sair do treino e pensar “hoje dei tudo e senti-me bem e estou preparado para ajudar a equipa”. Se eu tiver uma alimentação má, se andar a sair à noite…epa é lógico que chego aqui para treinar e não tenho condições para dar o meu melhor e nem sequer vou para casa a sentir-me bem comigo próprio e eu gosto de sentir-me bem comigo próprio (…) mesmo que essas regras não existissem eu ia tê-las para mim porque gosto de me sentir bem e gosto que as pessoas sintam que eu estou a dar o máximo.



FDJ: Sempre teve o apoio da sua família para seguir esta carreira?
Eduardo: Sim. Como eu sempre fui conciliando o estudo com o futebol essa questão nunca se colocou. Os meus pais sempre me apoiaram porque eu nunca dei razões para que não o fizessem (…). Sempre apoiaram as minhas decisões, mas eu também sempre ponderei muito bem as situações…por vezes até pondero demasiadamente as coisas…



FDJ: O que costuma fazer nos seus tempos livres?
Eduardo: Procuro organizar o meu projecto, tentar melhorar a cada dia e resolver os problemas que advêm daí. Gosto de sair, de ir ao cinema, tomar café com os meus amigos, sou uma pessoa normal…. Como também tenho que vir para Lousã as vezes prefiro ficar em casa onde descanso vejo televisão ou vou para a Internet.



FDJ: É utilizador assíduo da Internet?
Eduardo: Sim. Acho que foi um passo muito grande para a evolução da sociedade. É óbvio que tem sempre os seus contras, é como tudo… oferece-nos muita coisa e nós temos que saber triar as coisas boas das coisas menos boas.



FDJ: Costuma informar-se lá sobre a actualidade? Acha que esta pode substituir o jornal?
Eduardo: Sim, costumo-me informar na Internet (...) Eu penso que é importante mas há coisas que são insubstituíveis, os jornais já estão na Internet e as pessoas continuam a comprar o
jornal. Na net temos que procurar, no jornal, já temos a estrutura do jornal em mente… e é mais simples.



FDJ: Desde há umas épocas que a assistência nos estádios portugueses têm vindo a diminuir progressivamente. Como vê a falta de publico nos estádios?
Eduardo: Também é um pouco o reflexo da sociedade e não tem, por vezes, a ver com a qualidade …tem a ver com a regressão que existe no país. Isto está complicado, vir comprar um bilhete de 20 ou 30 euros para ir ver um jogo de futebol não é fácil.



FDJ: Não acha que deviam ser tomadas medidas por parte dos clubes ou até mesmo da Liga para inverter a situação?
Eduardo: Hoje em dia e o futebol cada vez mais um negócio, os clubes são empresas e pensam na rentabilização dos activos (…) será melhor que ter 5.000 adeptos a pagar 20 euros ou 20.000 a 5 euros?!!



FDJ: Como jogador, qual é o papel do adepto?!
Eduardo: O adepto é muito importante, quanto mais adeptos houver mais motivados os jogadores ficam, e se mais motivados ficam mais qualidade podem dar ao jogo. A presença dos adeptos é sempre uma forma de motivação para os jogadores e é sempre uma forma de proporcionar um espectáculo melhor.




FDJ: A “briosa” tem no panorama nacional a conotação do “clube dos estudantes”. Na sua opinião, a essência do clube tende a manter-se?
Eduardo: Acho que a académica nunca se vai desassociar dessa conotação e vai ter sempre jogadores estudantes nem que seja na formação. O futebol profissional esta a caminhar para um rumo, futebol/empresa, em que nem sempre é possível haver essa conciliação. No fundo isto é um pouco a identidade da académica… é um clube que toda a gente gosta e é amado por todo país.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

LINO - 16




Lino, lateral esquerdo, foi dos jogadores mais utilizados na época por Manuel Machado. Com um pontapé esquerdino forte o brasileiro, embora tenha feito a sua formação no seu pais natal, já passou por outros países da Europa como Espanha e Alemanha.



Fora de Jogo: Já esteve em vários países, foi importante para adquirir mais experiência ou, no seu ponto de vista, é a prova da vida de “saltimbanco” a que um jogador está sujeito?
Lino: É importante adquirir uma certa experiência, e passar por diversos países mas quando se chega a um pais que não há grandes diferenças de clima e alimentação, como é o caso de Portugal, não é complicada.



Fora de Jogo: Já jogou noutros países europeus onde tanto o clima, como a língua e a alimentação são muito diferentes do Brasil. A adaptação foi mais complicada?
Lino: Foi, foi mais complicada. Cheguei em Novembro a Espanha, num Inverno rigoroso, e infelizmente não havia nenhum brasileiro na equipa para me ajudar, a alimentação era muito complicada, diferente da do Brasil. Também era a primeira vez que eu saia do país então foi complicada a adaptação mas tive que ter força de vontade e de querer vencer no futebol. Na Alemanha foi muito mais complicado porque eu não falava inglês, não entendia alemão….tinha um brasileiro que me ajudava mas mesmo assim os 4/5 meses que estive lá foram complicados.



Fora de Jogo: A nível futebolístico quais são as principais diferenças?
Lino: Aqui em Portugal joga-se de uma forma completamente diferente do que em Espanha e na Alemanha. Nós defesas, temos muito mais responsabilidade atrás…temos que ter mais atenção em defender porque joga-se com 3 avançados e a atenção tem que ser a dobrar…tive que me adaptar mas graças a Deus correu tudo bem.



FDJ: Tem algum ídolo?
Lino:
Sempre gostei do Ronaldo, do Roberto Carlos. Referi-me primeiro ao Ronaldo porque ele é avançado e eu sou defesa esquerdo, temos posições completamente diferentes mas já deu muitos títulos e ao Brasil e sempre que eu entrava em campo inspirava-me nele. O Roberto Carlos porque tem a mesma posição do que eu e sempre que olho para ele tento fazer o que ele tem de melhor.



FDJ: É complicado chegar à selecção brasileira?
Lino: Sim porque há muitos jogadores brasileiros muito bons quer a jogar no Brasil quer a jogar noutros países. O que há mais hoje são avançados e laterais esquerdos, então na minha posição, há o Adriano e o Gilberto mas eu não desisto, é o meu sonho de criança e quando tiver uma chance vou aproveitar da melhor forma possível.



FDJ: Tem algum ritual?
Lino: Não, mas rezo bastante.



FDJ: O que costuma fazer quando não treina?
Lino: Passear, conhecer um pouco mais a cidade. Levar a minha filho ao parque… não faço muita coisa, fico mais por casa.



FDJ: É complicado conjugar a vida profissional com a pessoal?
Lino: É verdade, a decisão não pode ser sempre o jogador a tomar. É complicado porque a mulher também tem que opinar, o fi lho depois começa a crescer…não se cria uma raiz…é complicado tanto para o jogador como para a família.



FDJ: Quando veio para Coimbra tinha noção que a Académica era o “clube dos estudantes”?
Lino: Não, não tinha noção nem porquê o nome da Académica. Aprofundei a história aqui porque lá no Brasil só tinha assistido a dois ou três jogos.



FDJ: Sofre mais dentro ou fora do campo?
Lino: Mais fora porque vê-se a alguém errar pensa-se que se tivéssemos ali podíamos ajudar… estar de fora é muito pior.



FDJ: Como jogador estrangeiro qual é o papel do empresário na sua carreira?
Lino: Pensar no jogador, não pode pensar primeiro nele ou até no clube a nível de dinheiro. Tem que pensar no profi ssional porque o empresário hoje em dia tem o papel não só de ver um possível contrato do jogador mas também deve ligar para saber como estão as coisas e preocupar-se com ele.



FDJ: Na sua opinião, a profissão de “empresário” tem tendência a enraizar-se no futebol ou, pelo contrário, a desaparecer?
Lino: Eu acho que tem tendência a ser aniquilada, porque os empresários estão a difi cultar muito as coisas, tanto aos jogadores como aos clubes e muitos jogadores hoje em dia preferiam ter o seu próprio passe do que estar nas mãos dos empresários.

VINHA - 18





Vitor Vinha, jovem promessa do futebol português, jogou sempre na Académica. Ainda com um longo futuro futebolistico pela frente não abdicou de ingressar na Universidade. Admite ter como idolos Maniche, Zidane e Figo e espera, um dia, chegar à selecção A.




Fora de Jogo: Qual é o curso que está a tirar?
Vinha: Ciências do desporto, no segundo ano.


Fora de Jogo: Quais são as tuas expectativas em relação ao curso? Pretende exercer um dia?
Vinha: A carreira de futebolista é curta como toda a gente sabe e como tal pretendo tirar o curso para poder tirar partido dele, por isso é que estou a estudar.



Fora de Jogo: É complicado conciliar sua vida pessoal com a profissional?
Vinha: Não, há tempo para tudo. Sendo atleta de alta competição sabemos que de manhã estamos a fazer uma coisa, a estamos a fazer à tarde outra, sabemos que há tempo para tudo, é uma questão de gerir bem o tempo.



Fora de Jogo: Sempre teve o apoio da sua família para seguir a carreira de futebolista?
Vinha: Sempre tive apoio para fazer aquilo que gosto, a minha família sempre teve comigo, uma coisa que me pediram sempre foi para seguir em frente nos estudos. Depois o futebol acabou por ser uma certeza, acabei por me tornar profissional e também depois fui às selecções, fui campeão da Europa e sempre tive o apoio deles claro.



Fora de Jogo: É difícil, com a realidade do futebol português, chegar-se a profissional de futebol?
Vinha: Isto é tudo uma política dos clubes e também dos treinadores. A académica neste momento criou condições para que as camadas jovens possam ser cada vez mais competitivas e darem mais jovens jogadores ao futebol profissional. É claro que depois se chegarmos ao futebol profissional e não houver uma aposta as coisas acabam por se perder.



FDJ: A aposta nas camadas jovens é fundamental para a evolução do futebol português?
Vinha: Sim, mas penso que uma coisa é as camadas jovens, outra é o futebol profissional. Enquanto que nas camadas jovens estamos ali para aprender…no futebol profissional é tudo cobrado e exigido o rendimento máximo.



FDJ: Acompanha algum campeonato europeu ou internacional?
Vinha: O Inglês, o espanhol…um pouco o francês.



FDJ: O futebol português alguma vez consegue chegar ao mesmo nível competitivo?
Vinha:
Sim penso que sim, se as coisas começarem a serem vistas de maneira diferente. Se se começar a pedir mais futebol e menos palavras, a haver mais actos e menos palavras porque nestes campeonatos o que é privilegiado é o que se passa durante os 90 minutos. Eu penso que quando as pessoas em Portugal começarem a privilegiar o espectáculo, o futebol, penso que as coisas podem começar a evoluir de uma forma favorável.



FDJ: Qual a importância das claques/ adeptos para a prestação do jogador dentro de campo?
Vinha: São um apoio, uma ajuda importante em cada jogo para nos. É para eles que jogamos, que damos o nosso melhor e claro que todos juntos, uma união poderá fazer a força e dar resultados. Como tal é o chamado 12º jogador.



FDJ: Um jogador de futebol está sempre sujeito a ouvir bocas menos “favoráveis” durante um jogo. Como é que se sente quando isso acontece?
Vinha: Quando estamos a jogar não pensamos em mais nada, muitas vezes essas coisas passa-nos ao lado, nem sequer chegamos a ouvir porque estamos concentrados no jogo. É claro que não vejo isso de forma depreciativa mas uma coisa é o que a pessoa vê cá fora e outra é o que se passa lá dentro e como tal se um adepto fala mal ou manda uma boca tenho que continuar a trabalhar em prole da equipa e dos objectivos…tudo faz parte e temos que conviver com isso.



FDJ: Costuma acompanhar as críticas, positivas ou não, que a imprensa faz em relação ao seu desempenho?
Vinha: Tudo tem o seu peso, é claro que de vez em quando acompanho. Um dia vou ler, outro dia já não leio, não faço muito caso disso o mais importante é o que eu penso sobre o que fiz ou o que as pessoas me dizem, o que a minha família me diz e claro aqui dentro do clube.



FDJ: Ultimamente tem se falado da presença de um psicólogo. Acha que era importante como jogador ter um psicólogo a acompanha-lo quer nos bons momentos quer nos menos bons?
Vinha: Sim penso que cada vez mais se desenvolver o conceito do psicólogo no futebol. Há muita gente que vem de fora, que precisa de acompanhamento para promover uma integração, por vezes quando as coisas não nos correm bem, recorremos a alguém para nos ajudar. Penso que é muito importante e que devia cada vez mais existir no futebol mas penso que a maior psicologia, o maior tratamento, a maior ajuda é entre todos dentro do grupo e como tal se isso for forte qualquer pessoa que venha para ajudar não tem o mesmo peso.



FDJ: Qual foi o momento mais marcante na sua carreira?
Vinha: Desde que jogo futebol que tenho tido momentos que me têm marcado, destacando dois ou três momentos: quando fui campeão da Europa em 2003, porque é um título, fez parte de um feito que fica para a história e o meu nome e o dos meus colegas ficaram marcados; a estreia oficial na Super Liga quando um jovem sobe ao futebol ao profissional também é muito marcante. São momentos, acontecem, ficam para a história mas o que interessa é o momento, o presente…isso é o mais importante.



FDJ: Como jogador formado na académica, para si a Académica é um clube ou é o clube?!
Vinha:
É uma mística, é um símbolo, é um clube diferente, é um clube especial. É o meu clube e que me acompanhou desde sempre portanto, se calhar sinto as coisas de maneira diferente e sinto a camisola de maneira diferente. Mas lá está, quando entramos [no relvado] estas coisas ficam para trás e o que importa são os resultados porque dentro de campo essas coisas não interessam, não funcionam e como tal temos que dar o nosso melhor.



FDJ: Tem algum ritual antes de entrar em campo?
Vinha: Não…mas entro sempre com o pé esquerdo ao contrário de muita gente. Penso que poderá ser a única coisa que faço.



FDJ: E para o número, algum motivo em especial?
Vinha: Na altura quando me tornei profissional, era júnior e tinha acabado de fazer 18 anos. E o 18 é quando atingimos a maior de idade, que podemos tirar a carta…é um número de mudança e como tal acabei por escolher o 18.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

MIGUEL PEDRO - 19


Miguel Pedro, extremo direito, chegou à Académica 5 dias antes da época começar. Fez as camadas todas no Boavista tendo jogado também no já extinto Salgueiros e no Desportivo das Aves. É uma jovem promessa do futebol português.

Fora de Jogo: Qual é a sua rotina habitual?
Miguel Pedro: Acordo por volta das 9h30/10 horas, tomo o pequenoalmoço, vejo televisão, leio jornais, internet… por volta das13h almoço. Às 15h30 venho para os treinos e depois dou uma volta nos centros comerciais, ver lojas e vou para casa. À noite vou ao cinema, jogo playstation ou assim.


Fora de Jogo: Falou em jornais, que tipo de jornais lê?
Miguel Pedro:
Leio os jornais regionais, Diário de Coimbra, geralmente, e um dos jornais desportivos… Jogo, Record ou Bola… já que todos falam a mesma coisa.


Fora de Jogo: Acha que os jornais regionais tratam bem a temática da Académica?
Miguel Pedro: Penso que sim… quando há problemas eles falam mas quando acontece alguma coisa boa eles também abordam…abordam o mais importante.


FDJ: A família sempre o apoiou durante a formação da sua carreira?
Miguel Pedro: Para ser sincero, a minha mãe nunca quis que eu fosse jogador de futebol. Não é que não acreditasse em mim mas toda a gente sabe que é difícil (…) hoje já me apoia claro.


FDJ: É difícil conjugar a vida profissional com a pessoal?
Miguel Pedro: Não penso que não, a vida profissional que levamos permite conjugar perfeitamente bem com a pessoal.


FDJ: Na sua opinião, os clubes devem apostar na formação e tentar formar jogadores “da casa” em detrimento dos ditos craques estrangeiros?
Miguel Pedro: Acho que sim porque o problema do futebol português é mesmo esse. Temos tantos bons jogadores nas camadas jovens, somos campeões da Europa, do Mundo e muitos jogadores perdem-se quando fazem a transição dos juniores para os seniores porque não há uma aposta forte (…) a Académica está a fazer bem essa aposta com o Tourizense, os jogadores que vêm dos juniores podem integrar-se num plantel sénior…muitos clubes estavam a tentar fazer com as equipas B mas isso acabou, o que foi mau.


FDJ: Para além de ter feito as camadas jovens todas no Norte do país também jogou lá já como profissional. A diferença a nível de apoio é grande?
Miguel Pedro: No norte as pessoas são mais exigentes ,mais calorosas, mais exigentes…aqui são mais calmas…lá no porto há cobrança, é diferente lá. O apoio é muito importante, nós sentimos a força deles (…) [as criticas] é normal, quando não se sentem bem devem protestar.


FDJ: Durante o verão costuma estar atento às contratações ou desligasse um pouco da realidade desportiva?
Miguel Pedro: Nas ferias raramente estou em Portugal, a única coisa que levo é o portátil (…) vou acompanhando mas a gente nas férias esquecemo-nos um pouco disso…só quero praia e sair, abstrair-me um pouco…mas é claro que de vez em quando vejo.


FDJ: Quando viaja se houver imprensa portuguesa, compra-a?
Miguel Pedro: Não, não, quando vou para fora através da Internet tenho
acesso a tudo.


FDJ: A carreira de futebolista é bastante curta. Muitos jogadores começam desde cedo a preparar o seu futuro. Já pensou o que vai fazer quando acabar a sua carreira?
Miguel Pedro: Dá que pensar… gostava de montar e gerir um restaurante (…) adoro cozinhar e isso é uma boa opção.


FDJ: Para alem de jogador, por vezes é “forçado” a ser adepto. Sofre mais como adepto ou como jogador?
Miguel Pedro:
Sofro muito, muito, muito mais cá fora…temos uma perspectiva melhor do jogo e enervamo-nos porque não podemos contribuirnem podemos gritar para o campo “Olha não estás sozinho”, sofre-se muito mais.


FDJ: Esta época teve lesionado cerca de dois meses. Como foi o processo?
Miguel Pedro: O processo não é doloroso, é motivador, nos primeiros dias senti-me um bocado abatido... a família também me ajudou, a direcção, os médicos…todos me disseram que eu ia recuperar. Passada uma semana [da lesão] foi a motivação de voltar, de ficar bem. Nós às vezes ficamos chateados por não sermos convocados ou por estar no banco e não entrar e isso é bem pior do que nos lesionarmos.


FDJ: É importante a presença de um psicólogo no clube? Para lidar com as lesões, adaptações, resultados menos bons…
Miguel Pedro:
Penso que sim, é importante. Porque não dar uma oportunidade? Se não der resultado vai embora como acontece com os jogadores… acho que era uma boa aposta.


FDJ: Qual a importância do desporto nos jovens?
Miguel Pedro: Penso que toda a gente gosta de desporto… o desporto motiva os jovens e tira-os de vícios, drogas, bebida, fumar e penso que é importante para a vida em geral.


FDJ: Tem algum ritual antes de entrar em campo?
Miguel Pedro: Não, penso que não. Se calhar tenho mas não reparo… todos os jogadores têm acho eu…mas eu,pelo menos, se tenho, não reparo.

LIRA - 20





Lira, defesa esquerdo brasileiro, foi uma das apostas da Académica em 2005/2006. Campeão paranense por duas vezes, ainda luta pela titularidade na briosa.




Fora de Jogo: Foi por opção vir do Brasil para a Académica?
Lira:
Foi por opção e também porque surgiu a oportunidade. É outra realidade de futebol, outra divisão e estou a gostar muito de estar aqui.


Fora de Jogo: Acha que é um sonho para qualquer brasileiro dar o “salto” para a Europa?
Lira: Acho que sim, tenho muitos amigos lá no Brasil e conversamos muito sobre isso e o sonho deles é poder estar na Europa não só em Portugal mas em qualquer clube grande.



Fora de Jogo: A adaptação foi complicada?
Lira: É diferente o futebol de lá com o daqui, tem mesmo que haver um período para a adaptação. O clima, o futebol é mais lento… e no clima eu joguei no sul, que é mais frio lá e há
mais contacto físico, corpo a corpo, como aqui.




FDJ: A nível de alimentação notou grandes diferenças?


Lira: Estou a gostar, a comida portuguesa não é muito diferente, a grande diferença é o costume, lá no Brasil comemos feijão todos os dias, aqui não…aqui come-se massa, arroz, batata…lá a gente mistura tudo.



FDJ: Veio para Portugal sozinho? Foi complicado?
Lira: Vim sozinho porque na altura era solteiro…hoje já casei. Não foi complicado porque sai de casa quandotinha 15 anos e ligava “Mãe como se faz arroz?”, então acabei por me acostumar e são 9 anos a morar sozinho e acabamos por nos habituar ao facto de não estarmos perto da família … claro que a família é necessária mas são obstáculos que temos que ultrapassar.



FDJ: Tinhas noção da essência da Académica quando vieste para cá? Pretende seguir algum curso caso continue a jogar em Coimbra?
Lira: Eu conhecia um pouco da história (…) no Brasil dizem que os jogadores de futebol são um bocado burros, eu não acho, no Brasil…comecei com 15 anos a jogar, estava na escola e com 18 fui profissional e lá jogase quarta / domingo, quarta / domingo e havia voos de 3 horas só dentro do Brasil, como não conseguia conciliar acabei por desistir….daí não ter pensadoem voltar a estudar…



FDJ: Qual é a importância da claque na contribuição num bom espectáculo? Nota diferenças em relação às brasileiras?
Lira:
A torcida acompanha, grita e esta sempre a apoiar…há diferenças mas não muitas…tenho amigos de outros clubes que a claque é de 1000 pessoas e 2000 pessoas, aqui é diferente… a claque está sempre a apoiar e não se nota muita diferença. A grande diferença se calhar entre as portuguesas e as brasileiras é violência de que estas últimas têm fama… Só violência não, eles dão espectáculo eu tive o prazer de disputar uma final carioca com 50 mil pessoas no Maracanã e aquilo é um espectáculo…embora quando se juntam as claques rivais… é muito perigoso ir uma família ao futebol, não há segurança mas é preciso sempre realçar o espectáculo que eles dão.



FDJ: No jogo contra o Porto, a Mancha Negra fez uma coreografia que ocupou a lateral toda. Viu? Qual foi a sensação ao ver aquele apoio num momento que a equipa não estava bem no campeonato?
Lira: Muito linda (…) eu que estava de fora dava vontade de estar lá dentro, dá motivação a mais mesmo…quando se entra no estádio e se tem uma claque a apoiar e a incentivar como a da académica tem a responsabilidade de dar algo mais.



FDJ: É complicado chegar a titular numa equipa da liga principal?
Lira:
Você vai par um clube e o treinador tem a maneira de trabalhar e você tem que se adaptar e trabalhar. Eu respeito e espero que quando tiver a oportunidade corresponder.



FDJ: É complicado estar no banco?
Lira: Tinha um treinador meu que falava “O jogador tem estar sempre preparado” e, de facto, é verdade. De repente acontece algo, o treinador precisa de mim e eu tenho que estar preparado, a cabeça, o corpo para poder corresponder porque se se entra e não se corresponde dá-se motivos para ele falar “está vendo teve a oportunidade e não conseguiu aproveitar.



FDJ: Tem algum ídolo?
Lira: Não mas tenho jogadores que acho um espectáculo, o Ronaldo por exemplo, mas também há muitos outros…aqui em Portugal o Cristiano Ronaldo.



FDJ: Tem algum ritual?
Lira: Eu creio em Deus e a minha força está no Senhor.



FDJ: É difícil conjugar a vida pessoal com a profissional?
Lira: Quando um profissional de futebol se relaciona com a mulher e ela sabe da sua profissão, agora vou ser um pouco machista, ela tem que aceitar e abrir mão de tudo porque nós estamos sujeitos a ir para outro país…é complicado mas quando se começa a pessoa tem que estar ciente disso e foi o meu caso, a minha esposa onde vou espero estar com ela e ela abrir mão, de momento, das coisas dela.



FDJ: Já pensa no que vai fazer quando acabar a carreira?
Lira: Penso no que posso investir porque a carreira é curta e temos que pensar no dia de amanhã…

LITOS - 21



Litos fez as suas camadas jovens no Boavista integrando, após uma passagem por empréstimo ao Campomaior e ao Estoril, o plantel sénior. Em 2000 sagrou-se campeão português e consta no seu curriculum
também uma Taça de Portugal. Antes de vir para a Académica vestiu a camisola do Málaga durante 5 anos.

Fora de Jogo: Sempre foi a carreira que quis seguir?!
Litos: Eu sempre tive a paixão pela bola, já os meus irmãos também mas não tiveram a sorte que eu tive… sempre fui para a rua jogar com os meus amigos tive a sorte e trabalheipara isso também.


Fora de Jogo: É complicado chegar a profissional em Portugal?
Litos: É muito complicado porque requer muito espírito de sacrifício e neste momento que o futebol português esta a passar uma fase dificil.


Fora de Jogo: Não acha que Portugal não tem estrutura para comportar os salários?
Litos:
O problema é esse, também não dão condições aos adeptos, os bilhetes são muito caros mas também por causa das especulações que há no futebol português sobre a corrupção... as pessoas afastam-se do futebol. Neste momento no futebol português a grande vitima é o futebolista porque é o grande protagonista e não estão a cuidar dele.


FDJ: A nova reforma tem gerado alguma polémica. Qual a sua opinião no que diz respeito a este assunto?
Litos:
Eu penso que não vai para a frente. O futebolista nunca teve muita protecção e nunca deram garantias ao profissional a nível de futuro. É lamentável…a nível de federação, de sindicato dos futebolistas porque não têm muita força.


FDJ: E a nível médico, os jogadores estão bem protegidos?
Litos: Eu penso que sim, agora com as novas tecnologias e há bons médicos.


FDJ: Na altura que se transferiu para o Málaga foi por opção?
Litos: Foi mais opção porque felizmente tive uma carreira brilhante no Boavista. Os anos que passei lá concretizei os meus objectivos tanto pessoais como colectivos, ganhei tudo o que tinha a ganhar em Portugal. Queria novas experiências e fui para uma liga espanhola super competitiva.


FDJ: Qual o balanço que retira da experiência?
Litos: O balanço foi muito positivo, é com grande nostalgia que recordo os meus anos no Málaga.


FDJ: Qual foi a sensação de ser campeão no Boavista?
Litos: A sensação é a redobrar, ser campeão num clube como o Boavista… aqui os campeões são crónicos, os ditos três grandes, e um outsider como o Boavista…ninguém acreditava no nosso potencial, nas nossas qualidades e nós lutamos contra tudo e contra todos.


FDJ: O espírito vivido era de grande euforia ou de pressão?
Litos: Nós só assumimos a 10 jornadas do fim que íamos lutar pelo título porque diziam que não tínhamos qualidade para ser campeões nem jogar com tanta pressão e então nos assumimos e cumprimos.


FDJ: A nível de adeptos nota alguma diferença do Norte para o Sul?
Litos:
Sim, é diferente. As pessoas no Norte são mais ferrenhas e o pessoal é muito dado aos seus clubes e são mais muito fanáticos. Mas aqui em Coimbra é de elogiar a atitude dos adeptos porque isto é um clube especial e a Mancha Negra particularmente apoia muito o clube.


FDJ: Apercebeu-se da coreografia feita contra o F.C. Porto?
Litos:
Sim, foi espectacular e também sei que é um cenário que dá muito trabalho mas é esse espírito que nos muito alento. É muito importante este tipo de iniciativas porque nós apercebemo-nos que eles estão connosco não só em casa como fora, são verdadeiros.


FDJ: Que campeonatos costuma acompanhar?
Litos: Principalmente a liga espanhola não só porque joguei lá mas também porque tenho lá muitos amigos.


FDJ: Alguma vez Portugal vai conseguir chegar ao nível competitivo do espanhol?
Litos:
Por este andar não. É com certa mágoa (…) há muita tradição no nosso país, temos muito bons jogadores mas acabam todos por ir para o estrangeiro.


FDJ: Como costuma ocupar os tempos livres?
Litos: Estar em casa, ler…gosto muito de de ler e estar com a família como é claro.

PEDRO ROMA - 24


Pedro Roma, capitão da académica, já com 36 anos continua no activo. A sua passagem pelo Benfica e Gil Vicente deram-lhe experiência
mas foi, e é, na Académica que ganhou todo o seu prestígio e experiência estando inclusive habilitado ao “cargo” de ser uma das figuras míticas do clube.


Fora de Jogo: O que é o levou a entrar na universidade visto ter uma carreira profissional estável e que, de certa forma, lhe garantia o futuro?!
Pedro Roma: Não concordo em nada com a questão pois, na minha opinião, ela pode ser divida em dois momentos. O inicial em que quando começa a minha carreira em termos profissionais em que os sonhos eram imensos e em que consegui chegar a um clube grande, consegui atingir
objectivos máximos no futebol. Isto leva-nos por vezes a abdicar de coisas que achamos que não são fundamentais. Todos esses sonhos e objectivos que andam na nossa cabeça levam-nos a que seja tudo muito maravilhoso e no fundo eu ao longo dos anos fui metendo na minha cabeça que este mundo para além de ser aliciante não só pela parte financeira há situações em que não é realmente verdadeira. Foram esses anos de experiência que me levaram a continuar os estudos e que me levaram a tentar conciliar ao máximo as duas “profissões”. No fundo foi um objectivo
muito pessoal que eu tentei concretizar e que felizmente estou prestes a terminá-lo e sei que é uma ferramenta que poderá ser fundamental na minha vida futura. As pessoas dizem que passei por bons clubes, que tenho uma carreira muito bonita mas a minha vida não se esgota só no futebol.


Fora de Jogo: Pretende exercer?!
Pedro R.: Talvez a questão não seja colocada no timing certo pois ainda estou no activo e ainda vou jogar 1 ou 2 anos. Tudo depende de como as coisas vão correr daqui para a frente mas essencialmente sei que (o curso) é uma ferramenta muito útil em termos futuros. Para lhe responder à questão concretamente não sei dizer ser se vou enveredar para a via profissional enquanto professor ou se vou aproveitar o curso, visto ser de ciências do desporto, para estar ligado ao desporto numa instituição qualquer (está área sim irá mais ao encontro em termos de futuro mas ainda é muito precoce para pensar nisso).


Fora de Jogo: Qual é o seu sentimento em relação à académica?!
Pedro R.:
A académica é um sentimento que não se explica, que implica. Para mim, enquanto atleta, é a minha forma de transmitir o meu valor, os meus ideais dentro de campo, ser um bom profissional e é como é óbvio é o suporte da minha vida financeiramente. Fugindo à parte profissional para mim pois para mim a académica é muito mais do que isso, tenho 15/16 anos de académica e é uma vida inteira quase. Aprendi a gostar da académica muito antes de vir jogar para cá, quando vinha ver aos jogos com os familiares. Mais tarde fui convidado para ir jogar nos juvenis e foi nessa fase que aprendi a gostar e a sentir a académica…É aquela mística que os mais velhos nos vão transmitindo…Para mim é um sentimento que vai além de profissional… Cresci muito como Homem, tenho um curso e de certa forma graças à académica.


FDJ: Qual a importância do adepto da académica?!
Pedro R.:
Os adeptos têm sido, enquanto me conheço como atleta da académica, fundamentais e parte integrante dos nossos resultados e da concretização dos nossos objectivos. Tenho muitas
vezes conversas fora do estádio/ jogo e eles demonstram as suas amarguras quando as coisas não correm bem mas também nos abordam para dar uma palavra de incentivo. É o 12º elemento.


FDJ: E da Mancha Negra?!
Pedro R.: Felizmente temos uma claque que está sempre presente. Já jogámos em vários sítios tão longínquos que nunca pensamos ver lá uma faixa da Mancha e o que é certo é que estão sempre presentes… independentemente do número de elementos (…) e isso é fundamental para nós (atletas) e é sinal do carinho que eles têm. Agora também temos que ter em conta quando as coisas são levadas a extremos, e agora partimos para os tais adeptos que, enquanto ficcionados têm atitudes que desprestigiam o conceito do futebol-espectáculo (…) situações de bocas, de confronto entre outras claques, por exemplo. Pelo que conheço, felizmente, raramente assisti a confrontos entre a Mancha e outras claques. Não estou a dizer que eles não existem mas penso que essa é a parte que nós jogadores não gostaríamos de ver.


FDJ: Qual o momento que considera mais marcante na académica?!
Pedro R.: Tive 2 ou 3 momentos. O primeiro que é quando saio dos juniores e sou convidado para integrar na equipa sénior da académica. Não é todos os dias que um atleta, ainda com idade de júnior, treina com a equipa principal na primeira divisão. Deixou-me extremamente satisfeito e orgulhoso. O segundo, que é único e o mais marcante, foi depois de estarmos cerca de 10 anos na segunda e subimos de divisão e em que os últimos 5 minutos de jogo praticamente só existia relva, capas e batinas e toda a gente a toda a gente nos apoiava euforicamente. Depois há outros momentos como a outra subida, as viagens nomeadamente uma a Macau que fomos todos
trajados…entre outros.


FDJ: Como capitão tem uma responsabilidade acrescida. Qual o seu papel?!
Pedro R.:
Há muitos anos atrás já fui capitão…deixei de o ser por motivos pessoais. Neste momento foi um novo desafio que me foi colocado (...) para mim ser capitão não é ser mais nem menos que os outros elementos (…) tenho mais anos da académica e de certa forma sou o elo de ligação para os novos elementos que chegaram, que foram muitos, e transmito os valores da académica, da tal mística, do que é a cidade (…). A primeira coisa que disse aos meus colegas é que em cada um deles há um capitão de equipa. Ser líder ou ser capitão acontece de forma natural, não imponho nada, tento de certa forma, entender os problemas do grupo de trabalho, ser o elo de ligação entre os jogadores, a direcção e a equipa técnica e, no fundo, tento conciliar todos os nossos problemas fazendo com que o resultado final atinja os nossos objectivos, que neste momento é a manutenção na Primeira Liga.